Ubatã chega aos 72 anos de emancipação com um marco redondo: o hino municipal completa quatro décadas. A letra e a música, de Ramos Feirense, entraram na história local em 29 de junho de 1985, quando a Lei nº 202 oficializou o conjunto de símbolos do município.
Segundo o historiador Wesley Faustino a iniciativa ocorreu no primeiro mandato do prefeito Almenísio Braga Lopes, Miu (1983–1988). O pacote cívico reuniu bandeira, brasão e hino. As cores azul, vermelho, branco e amarelo reforçam a identidade do território, a devoção à padroeira, Nossa Senhora da Conceição, e o cacau como vetor econômico.
Desde então, a execução do hino se tornou rito em atos oficiais, escolas e eventos cívicos. Autor prolífico, Ramos Feirense compôs hinos para várias cidades. Em Ubatã, condensou três eixos: fé, natureza e trabalho.
A abertura — “Deus nas plagas do sul da Bahia / de Ubatã fez brilhante fanal” — eleva o município a farol simbólico. A imagem da “luz” indica vocação que ultrapassa limites locais.
O coro sustenta o tripé de valores — vida cristã, lazer e trabalho — num registro direto e popular. A segunda parte mira o território: “colinas e montes”, rios “em cantantes caudais” e “cacauais” em flor. É a topografia traduzida em identidade produtiva.
A metáfora da “canoa de rija madeira” resume o espírito de resiliência. A canoa atravessa “lagos da história”, com a bandeira desfraldada e o povo “cantando vitória”. Não há triunfalismo vazio: há a afirmação de quem venceu ciclos de crise sem perder o rumo.
O fecho retoma a matriz religiosa. Ao citar a Conceição e a passagem de Canaã — “Fazei tudo o que Cristo mandar” —, a composição aproxima tradição e cotidiano. A mensagem é simples: disciplina, solidariedade e esperança. Valores que sustentam a vida comunitária.
Quarenta anos depois, o hino preserva a força de origem. A letra permanece clara, sem erudição desnecessária, e conversa com gerações novas. Em tempos de mudanças rápidas, o símbolo cumpre um papel: ancorar memória, orientar o presente e projetar futuro.
Este é o 2º capítulo da série “Ubatã 72”, parceria editorial do Interiorano e da Rádio Povo com o pesquisador Wesley Faustino. A cada edição, um recorte histórico para entender de onde viemos e para onde vamos. (Interiorano)