Pejotização deixa trabalhadores vulneráveis a adoecimentos sem direitos garantidos

Especialistas defendem mudanças na legislação para proteger profissionais contratados como PJ, que não têm acesso a benefícios como auxílio-doença em casos de transtornos psiquiátricos.

Por Garcia Junior - Interiorano
21/03/2025 14h40 - Atualizado há 1 semana
Pejotização deixa trabalhadores vulneráveis a adoecimentos sem direitos garantidos
Foto: Acervo pessoal

A saúde mental tem se tornado uma das questões mais urgentes no debate sobre o ambiente de trabalho, à medida que transtornos como ansiedade, depressão e burnout têm levado milhares de trabalhadores ao afastamento. Segundo o especialista em direito do trabalho Emílio Fraga,

"o adoecimento mental no ambiente de trabalho é uma realidade que precisa ser encarada com seriedade, tanto pelas empresas quanto pela legislação. O trabalhador que precisa se afastar por questões de saúde mental tem direitos garantidos, como auxílio-doença e estabilidade provisória após o retorno".

A grande questão, no entanto, é: quem realmente arca com os custos desse afastamento? De acordo com o Ministério da Saúde, os afastamentos por motivos psiquiátricos aumentaram 30% entre 2017 e 2021. Este aumento reflete a crescente carga emocional que muitos profissionais enfrentam no dia a dia, intensificada por fatores como pressão no trabalho, falta de suporte psicológico e a precarização das relações laborais. No entanto, o que tem preocupado especialistas é a situação dos profissionais contratados como Pessoa Jurídica (PJ), que muitas vezes não têm acesso a benefícios como licença médica ou auxílio-doença, o que os deixa em uma situação vulnerável.

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A pejotização, um modelo de contratação que vem ganhando força no Brasil, coloca os trabalhadores em uma posição delicada. Embora seja vista como uma forma de flexibilização do mercado, a pejotização retira dos trabalhadores direitos fundamentais, como a proteção em caso de adoecimento. Profissionais contratados como PJ não possuem os mesmos direitos trabalhistas de quem é contratado pelo regime da CLT, o que os deixa sem amparo caso precisem se afastar devido a problemas de saúde mental.

"Quando um profissional PJ se vê incapacitado de trabalhar por questões de saúde mental, ele se encontra em uma situação extremamente difícil. Não tem a quem recorrer para garantir sua sobrevivência durante o período de afastamento", comenta Fraga.

A pergunta que surge é: as empresas contratantes de PJs devem ser responsabilizadas pelo bem-estar desses trabalhadores, principalmente no caso de transtornos mentais que os impossibilitem de exercer suas funções? Embora a legislação ainda não tenha uma resposta clara para esse dilema, muitos especialistas defendem que a responsabilidade não deve recair exclusivamente sobre o trabalhador.

Fraga argumenta que "a pejotização não pode ser uma forma de transferir todos os riscos para o trabalhador. É preciso repensar esse modelo para garantir que ninguém fique desprotegido em momentos de fragilidade".

Esse cenário levanta a necessidade urgente de repensar as políticas públicas e as formas de contratação, para garantir a proteção da saúde mental de todos os trabalhadores, independentemente do tipo de vínculo empregatício. Uma das propostas defendidas por Fraga e outros especialistas é a inclusão dos profissionais PJ em programas de auxílio-doença, além da implementação de medidas preventivas e de apoio psicológico no ambiente de trabalho.

"A saúde mental é um direito de todos, e garantir esse direito é um dever coletivo", conclui Fraga.

Enquanto não houver uma mudança estrutural nas relações de trabalho e na legislação, muitos trabalhadores, especialmente os PJs, continuarão a ser afetados por problemas de saúde mental sem o devido suporte. A conta desse adoecimento não pode ser paga apenas pelo indivíduo, e a sociedade precisa se responsabilizar por garantir um ambiente de trabalho mais saudável e justo para todos. (Interiorano)


FONTE: @reportergarciajunior
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