08/10/2024 às 13h13min - Atualizada em 08/10/2024 às 13h13min

Mulheres compõem maioria do eleitorado, mas enfrentam barreiras na representação política em Ubatã

Com 5,7 milhões de eleitoras, as mulheres são maioria no eleitorado baiano, mas ainda lutam por maior participação política, representando apenas 45% dos filiados

Por Wesley Faustino
Enoe Ribeiro
O Portal de Estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela que as mulheres compõem a maioria do eleitorado brasileiro. Na Bahia, esse contingente é impressionante, alcançando 5,7 milhões de eleitoras, o que representa mais de 50% do total de eleitores no estado. No entanto, essa representatividade não se reflete na filiação partidária e na quantidade de candidatas nas eleições. Apesar de tantas mulheres no eleitorado, apenas 441 mil estão filiadas a partidos políticos para as Eleições Municipais de 2024. Isso representa 45% do total de filiados, com quase 960 mil membros ativos. Essa disparidade levanta questões acerca da efetiva participação das mulheres na política e os obstáculos que elas enfrentam.

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A filiação partidária das mulheres na Bahia é um reflexo das dificuldades para uma maior representação política. Mesmo com 5,7 milhões de eleitoras, o número de filiadas é significativamente menor comparado ao total de filiados. Isso é emblemático, pois indica barreiras que as mulheres enfrentam para se inserirem nos espaços políticos, onde dominam os homens. Os partidos políticos, em geral, ainda apresentam uma postura conservadora quanto à inclusão feminina, limitando o avanço desta população. As políticas de incentivo a candidaturas femininas estão em vigor, mas sua implementação ainda é insuficiente para garantir uma representatividade equitativa.

 A situação é crítica, mas persiste a necessidade de mais esforço por parte dos partidos e do eleitorado para mudar esse cenário. Ao analisar as candidaturas para as eleições deste ano na Bahia, percebe-se que a disparidade entre homens e mulheres persiste.  Nos 417 municipios da Bahia, somados para o legislativo, a diferença é ainda mais acentuada, com 23.221 homens buscando uma vaga, em comparação a 11.980 mulheres. Essa desproporção não se limita a Ubatã, pois os dados de todo o estado mostram que a maioria dos partidos políticos opta por candidatar mais homens. 

Em Ubatã, mesmo com um eleitorado feminino que corresponde a 54,27%, a realidade no campo eleitoral é triste. Apesar de ser a maioria, as mulheres não estão representadas como candidatas. Dentre os 41 candidatos ao legislativo, apenas 17 foram do sexo feminino. Essa discrepância é alarmante, pois é evidente que a representação feminina não condiz com o número expressivo de eleitoras. Embora a legislação tenha implementado cotas e iniciativas para facilitar a inclusão das mulheres, os números de candidatas continuam baixos. A análise do cenário em Ubatã reforça a necessidade de uma mudança estrutural nas abordagens políticas e sociais, que considerem as mulheres como potenciais líderes.

O desempenho eleitoral das mulheres em Ubatã também é desanimador. Apesar das eleitas em passado recente, como a vereadora Joilda Bonfim, que foi a mais votada em termos percentuais de votos válidos, o cenário atual sugere uma estagnação da presença feminina na Casa Legislativa. Nas últimas eleições, os candidatos homens de Ubatã conseguiram 7.961 dos votos válidos (84,14%), enquanto as mulheres somaram apenas 1.286 votos válidos (13,8%), evidenciando uma diferença gritante. Esses números mostram que mesmo quando candidatas obtêm votações expressivas, como as de Simone Santos Silva (Simone de Nino) nas eleições de 2016 e Andréa Nascimento Costa (Andréa de Pequeno, nas urnas) em 2024,  a dinâmica eleitoral não favorece a ascensão feminina. As duas tiveram o mesmo número de votos, 322, e Simone de Nino, à época,  teve mais votos que dois dos que conseguiram a cadeira de vereador. A situação é um claro indicativo de que as mulheres ainda são sub-representadas e de que ações efetivas precisam ser tomadas para mudar essa realidade.

Embora existam legislações federais que visam aumentar a participação feminina nas eleições, como as cotas e o fundo partidário, os resultados ainda são insatisfatórios. Em Ubatã, a Câmara de Vereadores, com 69 anos de existência (abril de 1955), apenas teve a representação de dez mulheres ao longo de sua história e 189 homens sentaram nas cadeiras de Vereadores, entre os titulares e suplentes(apenas 5,23% de mulheres em relação aos homens).

Na gestão majoritaria, como a prefeita Simeia Rigaud, que foi eleita duas vezes consecutivas, demonstra que espaços podem ser ocupados, mas ainda são exceções na regra. Mesmo assim, o número reduzido de mulheres eleitas é preocupante e sugere que mais investimento e apoio são essenciais para garantir que mulheres candidatas não apenas ocupem posições, mas que também sejam eleitas. 

Apesar dos desafios, existem casos de sucesso que merecem destaque. Em cinco municípios da Bahia, foram registradas apenas candidatas competindo, como aconteceu em Itapitanga, Monte Santo, Mortugaba, Muritiba e Várzea Nova, apenas mulheres estiveram na briga, o que é uma boa notícia numa eleição onde o número de postulantes homens ainda é ainda muito superior (968 homens x 181 mulheres disputando uma prefeitura). Em Muritiba quatro mulheres disputaram e uma quinta teve o nome impedido pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE

Mesmo no Partido da Mulher Brasileira(PMB) elas estão em desvantagem. Na Bahia, a sigla teve dez homens candidatos a prefeito, contra apenas quatro do sexo feminino.

Por Wesley Faustino; pesquisador, historiador, escritor, especialista em Gestão Pública e Gestão Ambiental e ex-vice-prefeito de Ubatã.

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