O homem que fez Ubatã crescer: relembre a trajetória de Laudelino José de Santana

Empreendedor, benfeitor e símbolo do progresso, Laudelino José de Santana deixou marcas profundas no desenvolvimento urbano

Por Wesley Faustino - Interiorano
28/07/2025 08h32 - Atualizado há 7 horas
O homem que fez Ubatã crescer: relembre a trajetória de Laudelino José de Santana
Foto: arquivo pessoal
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Nascido em Ruy Barbosa, Laudelino Santana tornou-se uma figura central na história de Ubatã. De comerciante de suínos a pioneiro do frigorífico local, deixou um legado de trabalho, doações e visão empreendedora. Seu nome segue vivo na memória e nos marcos da cidade. (Interiorano)

Nascido em 1926, no município de Ruy Barbosa, Laudelino José de Santana tornou-se uma figura emblemática no cenário econômico de Ubatã, sendo reconhecido como um dos pilares do comércio local e impulsionador do desenvolvimento regional. Aos 18 anos, alistou-se no Exército Brasileiro, servindo no destacamento de Itajuípe até os 19.

Desde jovem, demonstrava espírito empreendedor, iniciando suas atividades como autônomo na compra e venda de suínos — um setor que viria a moldar toda a sua trajetória. Durante suas viagens comerciais, conheceu Maria da Glória, jovem de Apuarema, com quem se casou e construiu uma grande família: oito filhos(Gleide Santana, ex- prefeito de Ubatã; Selma Santana, ex-vereadora de Ubatã;  Alembegue Santana, médico; Leno Santana, engenheiro quimico, quimico industrial e licenciado em quimica; Raimundo Santana, advogado; Cristovão, Mari e Cássio,  servidores públicos e do ramo de agropecuário; netos e bisnetos.

Em 1956, o casal se mudou para Ubatã, municipio recém-emancipado, onde Laudelino consolidou sua atuação no comércio de suínos, vendendo seus produtos na feira livre da cidade. Seu nome ganhou destaque quando passou a fornecer carne para a cozinha da empresa responsável pela construção da Usina do Funil, obra da Central Elétrica Rio de Contas (CERC). O seu sucesso teve várias parcerias comerciais, como a breve sociedade com Isaac Menezes e, a ajuda de José Bonfim e seu filho José Bonfim Filho(Zeca Bonfim), que o introduziram no comércio de gado,  "em 1960 adquiriu sua 1ª boiada na região de Água Doce ( Iguaí/Ibicui)", conta Tuca Bonfim, menino à época e presente na ocasião. 

Com essa expansão, Laudelino adquiriu seu primeiro veiculo um Jeep em 1963, nas mãos do fazendeiro Itamar Ramos, de Ibirapitanga e diversas propriedades rurais, entre elas a Fazenda Relíquia (1964), que deu origem aos atuais bairros Relíquia e Primavera, e a Fazenda Mira Rio (1966), localizada onde hoje se encontram os bairros Marinalva, São Raimundo,  31 de Março,Várzea e 2 de Julho,  fazendo divisa com a  Fazenda Avenida (bairro Júlio Aderne).

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Durante a gestão do prefeito Almir Clementino Muniz, Laudelino demonstrou mais uma vez seu comprometimento com o progresso da cidade ao propor e fornecer materiais(paralelepípedo, areia e cimento) para o calçamento de uma rua - avenida Marinalva -  que ligava a residência de Arnaldo Dentista (protético) à ladeira de acesso ao atual hospital municipal — trecho onde também se localizava sua casa. A parceria com a prefeitura resultou em melhorias significativas para a infraestrutura urbana.

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Em 1973, durante uma das tradicionais festas da cidade,o micareta,  o trio elétrico de Bento circulava pelo centro, patrocinado pela prefeitura. Laudelino, por iniciativa própria, financiou a extensão do trajeto passando pela avenida Marinalva até  a Praça João Dudu — um marco, pois foi a primeira vez que um trio elétrico desfilou fora do centro de Ubatã.

Reconhecido como o principal comerciante de suínos e bovinos da região, foi também pioneiro ao instalar o primeiro frigorífico local, introduzindo o uso de embalagens plásticas para carnes — inovação que elevou os padrões de higiene e conservação dos produtos, consolidando ainda mais sua liderança no setor.

Mesmo sem instrução formal e refinamento, Laudelino se destacou pelo espírito visionário, pela paixão por charutos e por automóveis, especialmente do modelo Jipe. Sua forma peculiar de dirigir se tornou folclórica na cidade. " Diziam que ele só andava na 1ª marcha por isso que o Jipe andava roncando", conta um ubatense que não quis se identificar. Como lembra seu filho, Leno Santana: "Ele não andava na primeira marcha. O barulho do jipe era por causa do jeito dele dirigir: pé pesado e sempre com o pé na embreagem", diz, sorrindo. E completa Josafá Matos,  amigo da família,   dizendo que "os carros que o senhor Laudelino Santana dirigiam trocavam constantemente a pastilha de embreagem".

Além de empreendedor, Laudelino foi um benfeitor da cidade. Doou áreas e materiais para o desenvolvimento de Ubatã para as  obras públicas, como o campo de futebol Jalmirão - atual hospital municipal - o abrigo para idosos, o campo do aterro e o terreno destinado à CEPLAC — muitas vezes, terrenos condicionandos o uso à execução das construções em até dois anos. Caso não construíssem no tempo determinado, a área voltava  para a família Santana.

Também, depois da enchente que derrubou a ponte do Rio Água Branquinha, no Pontalzinho,  :ele que deu toda material para reconstruir", lembra Júlio Bião, Juninho, um menino à época, que lembra hoje do seu pai e sua avó contando da coisas boas que senhor Laudelino fazia. Em março de 1972, a sorte também sorriu para ele: ganhou sozinho o prêmio da Loteba, principal loteria da Bahia à época, reforçando financeiramente ainda mais seu patrimônio.

A comunidade ubatense ainda guarda viva a memória de Laudelino, seja nas filas formadas às sextas-feiras, quando pagava os funcionários em dinheiro, seja nos inúmeros relatos sobre sua contribuição para o crescimento da cidade. Seu nome permanece eternizado em pontos importantes do município: um trecho da BR-330 e a ponte do Pontalzinho sobre o rio Água Branquinha.

Laudelino José de Santana não foi apenas um comerciante de sucesso — foi um construtor de oportunidades, um agente do progresso e um símbolo de dedicação à cidade que o acolheu. Seu legado vive nas ruas, nas histórias e na identidade de Ubatã. Morreu em 2 de fevereiro de 1978 aos 52 anos e sepultado em uma de suas propriedades: fazenda Besouro em Itamarati.

Por Wesley Faustino: historiador, pesquisador sobre a história da formação do município de Ubatã -  politica e administrativa; autor do livro de contos contos " Causos imaginários e histórias que o vento não leva", especialista em Gestão Pública e Gestão Municipal e ex-vice-prefeito de Ubatã.  


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