Promovida pela Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, a iniciativa, em sua terceira edição, vai distribuir prêmios em três eixos: iniciativas Populares, no qual 150 projetos receberão R$ 50 mil; Assessorias Técnicas com premiação de R$ 30 mil e três Iniciativas de Entes Públicos Governamentais, que receberão troféus.
“O Prêmio Periferia Viva fortalece o papel ativo das comunidades em decisões significativas, destacando suas capacidades frequentemente ignoradas, e responde ao engajamento de redes e movimentos sociais que buscam melhorar a vida urbana periférica”, destacou em nota o secretário Guilherme Simões.
Museus, agroecologia e projetos culturais foram alguns dos selecionados em 2024, entre os quais a Okupação Cultural C.O.R.A.G.E.M., sediada na Cohab José Bonifácio, na Zona Leste de São Paulo.
Para a Okupação, o prêmio foi fundamental para fortalecer a sustentabilidade e continuidade das ações. “Com o recurso, conseguimos criar um caixa emergencial, o que nos permitiu atender às principais necessidades do espaço. Realizamos pequenas reformas estruturais que melhoraram o conforto para quem frequenta nossas atividades, além de garantir mais segurança para o nosso acervo, equipamentos e materiais das coletivas que integram a Okupação. Esse apoio também nos trouxe mais fôlego para seguir desenvolvendo ações de forma autônoma”, explicou Letícia Ferreira, gestora e produtora cultural que atua na iniciativa.
O processo de seleção foi um momento importante para o grupo Okupação, que já tem 10 anos de atuação. Para Letícia, se tratou de um incentivo para manter documentos e registros atualizados, além de revisitar e reconhecer a trajetória. “Esse exercício de sistematização nos fortaleceu no que se refere à ampliacao da nossa capacidade de organizar informações, comunicar melhor e planejar projetos futuros de forma mais estruturada e estratégica. Também nos tornou mais preparados para participar de outras seleções e fortalecer nossa atuação em rede”, completou a gestora.
O espaço, que revitalizou uma área abandonada na COHAB, recebe artistas, oficineiros e produtores e mantém programação gratuita.
Além de viabilizar a ampliação de projetos, como a compra de um terreno pelo projeto Quebrada Orgânica, o reconhecimento ajuda na construção de portfólios para projetos futuros. A agricultora Joy Izauri, que é gestora do projeto na região do Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo, detalhou como os frutos deste reconhecimento já estão aparecendo. Chamados para oficinas em uma unidade do Sesc, ter o Periferia Viva no portfólio foi um elemento a mais na seleção.
“[o prêmio] ajuda não só na parte financeira, mas ajuda as iniciativas a serem reconhecidas no próprio território e a mostrar para a própria comunidade, superando dificuldades de diálogo com os outros moradores do território”, contou Joy.
O Quebrada Orgânica é um projeto de agricultura familiar em contexto urbano e periférico, formado por ela, pelo marido Robert, pelo sogro Gil, e pelos filhos do casal, Leônidas, de 8, e César, de 4 anos. Além de produzirem meia tonelada de alimentos por ano, parte da qual é doada aos vizinhos, também realizam um festival de agricultura urbana, em um trabalho que não vê um fim próximo.
“A gente acredita que tem trabalho para fazer para o resto da vida, sabe? E dentro disso a gente pode se especializar e fazer mil coisas, porque a gente pensa a terra como laboratório mesmo, porque a gente não trabalha só a produção de alimento aqui. Os menus do nosso festival anual são criados a partir daquilo que a gente planta aqui. O espaço é pensado como museu a céu aberto. Então, se você vier para o nosso festival, você vai ver as obras de arte, as instalações, em meio aos canteiros de produção de alimentos. Você vai ver informação em agroecologia, em ecologia”, explica a agricultora.
Também de outra periferia, mais próxima do mar, um outro projeto premiado em 2024 mostrou o potencial deste tipo de edital na continuidade de políticas culturais. No Museu de Favela do Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, na cidade do Rio de Janeiro, foi criado o primeiro Ponto de Memória, no Programa de Segurança Nacional, o PRONASC, com apoio de outros órgãos, como o IPHAN.
“A dinâmica do Periferias Viva em 2024 foi de muito aprendizado. Os encontros foram muito importantes, dando a dimensão do programa no território nacional”, nos contou Sidney Silva, que também atende por Tartaruga.
Neste Museu, que nasceu como uma estratégia de valorização da comunidade e elemento de segurança comunitária e que o mestre Sidney conceitua como “museu de território”, há um circuito de arte denominado Circuito Casas-Telas. Esse circuito tem 27 obras de arte, nas fachadas das casas de moradores. “São obras de grafite que retratam a nossa memória nas fachadas da casa dos moradores”.
Com o recurso, a instituição carioca ampliou o atendimento, criou brinquedotecas itinerantes e apoiou outras iniciativas que realizavam, já que o Museu só pode ser visitado ao se andar pelas comunidades, ampliando ações que já são apoiadas pela secretaria estadual de cultura fluminense.
Por Agencia Brasil