Foi em um daqueles encontros inesquecíveis que Wagner, percussionista e idealizador do Ubatambor, me presenteou com um pen drive recheado, nada menos que toda a discografia do lendário Sebastião Rodrigues Maia. Sim, os 29 discos de estúdio do imortal Tim Maia, ou melhor, o síndico — porque, se a música brasileira fosse um condomínio, ele seria o comandante. E não um síndico qualquer. Tim seria aquele que transforma assembleias em festas, toca groovin’ na portaria e bota ordem na bagunça com sua voz de trovão e seu jeito "tô nem aí".
► NOVIDADE: faça parte do canal do Interiorano no WhatsApp (clicando aqui). Tim Maia não era apenas um cantor; era um fenômeno. Sua voz grave e potente parecia ter o poder de mexer até com as pedras mais teimosas. Entre o soul, o funk e a MPB, Tim passeava como se tivesse nascido em todos esses estilos ao mesmo tempo. Suas músicas não eram apenas melodias; eram convites à emoção. Quem nunca suspirou ouvindo Gostava Tanto de Você? Mesmo sem saudade de ninguém em especial, é impossível não se deixar levar por essa melancolia universal.
Mas o síndico não se limitava ao amor. Tim era um filósofo musical, daqueles que cantam verdades universais sem rodeios. Foi ele quem nos apresentou a Era de Aquário, com sua mistura de misticismo, groove e teorias cósmicas que, convenhamos, nem ele parecia levar tão a sério. E essa era sua magia: a habilidade de transformar até as ideias mais mirabolantes em hits inesquecíveis.
Se suas músicas eram impecáveis, seus causos eram igualmente icônicos. Tim Maia tinha uma relação peculiar com horários e compromissos. Chegava aos shows no seu próprio tempo — ou, às vezes, nem aparecia. E quando alguém ousava reclamar, ele mandava na lata: "Quem quiser ouvir música, compra um disco. Aqui é show, meu irmão!" Esse jeito irreverente, aliado ao talento único, cimentou sua posição como uma das figuras mais autênticas da música brasileira. Quando ele finalmente subia ao palco, valia a pena esperar. Era trovão, tempestade e arco-íris, tudo no mesmo espetáculo.
Os clássicos de Tim Maia são como velhos amigos: sempre estão lá, prontos para embalar qualquer ocasião. Para os apaixonados — ou aqueles se recuperando de um amor —, Azul da Cor do Mar e Me Dê Motivo são escolhas certeiras. Mas cuidado: ouvir essas faixas aumenta significativamente as chances de mandar mensagens para o(a) ex.
Já Não Quero Dinheiro e Do Leme ao Pontal são convites irrecusáveis para mexer o corpo, mesmo que seja no passinho tímido que Tim eternizou. Quem nunca improvisou uma dancinha ouvindo essas músicas? São hinos da alegria que ultrapassam gerações.
Tim Maia não era apenas um artista; era um estado de espírito. Suas músicas continuam ecoando em churrascos de família, baladas retrô e nos momentos solitários onde só uma melodia parece compreender a alma. Ele tinha o dom de transformar o cotidiano em algo extraordinário, sem nunca perder a autenticidade. E se algum dia te perguntarem quem foi Tim Maia, pode responder sem pestanejar: "Foi o síndico da música brasileira." Ele está por aí, em cada acorde, em cada refrão, nos fazendo dançar, sorrir e, como ele mesmo cantou, entender que "na vida a gente tem que compreender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri". E entre risos e lágrimas, seguimos embalados por seu som eterno.
Por Wesley Faustino; pesquisador, historiador, escritor, host do PodCastdoChefe, especialista em Gestão Pública e Gestão Ambiental e ex-vice-prefeito de Ubatã.