Aos 19 anos, Gabriel Assunção Nascimento é o atual campeão brasileiro de canoagem velocidade e já carrega no peito o peso e o brilho de quem transformou sonhos em realidade. Desde a convocação para a seleção brasileira, em 2019, sua vida tomou rumos que ele jamais imaginaria.
Antes das glórias, havia simplicidade. Filho de Ubatã, Gabriel costumava ir ao centro de canoagem apenas como espectador. Montado em um cavalo da fazenda onde vivia com os pais, assistia curioso aos treinos do projeto Remando no Rio de Contas. Foi ali que Marcos Lima, o lendário Marcão da Canoagem — dirigente da Associação Ubatense Esportiva de Canoagem (AUEC) e da Federação Baiana de Canoagem (FBC) — percebeu seu talento latente: "Esse jovem tem o perfil de um canoísta", pensou.
Após insistentes convites, Gabriel, um jovem tímido, aceitou entrar no barco. Desde então, seu destino mudou. “Esse atleta vai trazer uma medalha de ouro para Ubatã e para o Brasil nas próximas Olimpíadas”, projeta Marcão, emocionado ao lembrar o início da trajetória do jovem que, na época, dividia o tempo entre os treinos e as tarefas da roça, ajudando a família a colher cajá, cacau e outros afazeres da roça.
Hoje, a vida de Gabriel já é marcada por conquistas grandiosas. Casado com Jaqueline Silva há cinco anos, é pai de Enzo, seu maior fã. “Papai é campeão de canoa”, repete o pequeno, cheio de orgulho. No mural de Gabriel, mais de 40 medalhas brilham — títulos brasileiros, baianos, sul-americanos, além de pódios em Copas do Mundo na Hungria, no Mundial Sub-23 em Portugal e no Mundial Sênior na Itália. Um espaço especial, no entanto, permanece vazio, reservado para a sonhada medalha olímpica.
O ápice mais recente da carreira veio no Campeonato Brasileiro de 2025. Gabriel conquistou o ouro no C2 ao lado do medalhista olímpico Isaquias Queiroz e, surpreendentemente, também venceu o ídolo no C1. “Ele estava na raia 5, eu na 6. Pensei que ficaria em segundo, no máximo. Larguei mal, mas nos 500 metros me veio a certeza: ‘é agora’. Nos últimos 200, acelerei tudo e disse para mim mesmo: ‘essa é a minha vez’.”
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E foi. Gabriel Assunção cruzou a linha de chegada fazendo história: derrotou o maior nome da canoagem brasileira e mundial, dono de três medalhas olímpicas. Um feito que encheu de lágrimas e orgulho sua mãe, Tatiane Santos Assunção, seu padrasto, Adelton e os três irmãos.
De cavalo na beira do rio ao topo do pódio, Gabriel é hoje símbolo de superação, talento e perseverança. O menino que venceu as águas carrega agora a esperança de um país: conquistar a tão sonhada medalha olímpica e eternizar seu nome entre os grandes da canoagem mundial. Gabriel estudou até a sétima série no colégio municipal Deraldo Passos e tinha um sonho tímido: ser vaqueiro.
Por Wesley Faustino; historiador, pesquisador sobre a história da formação do município de Ubatã - politica e administrativa; autor do livro de contos contos " Causos imaginários e histórias que o vento não leva", especialista em Gestão Pública e Gestão Municipal e ex-vice-prefeito de Ubatã
