Se hoje estivesse entre nós, Isaac Menezes de Oliveira completaria 90 anos neste 12 de novembro. Nascido em 1933, em Ubaíra, chegou a Ubatã em julho de 1955, numa cidade ainda jovem, com apenas três meses da administração de seu primeiro prefeito.
Dois anos depois, Isaac retornou à sua terra natal para casar-se com Dona Maria de Lourdes Vieira de Matos, sua companheira de vida por 60 anos, hoje com 93 anos, vivendo em Jequié, amparada pelo carinho dos filhos. Dessa união, nasceram oito filhos e uma descendência que se multiplica em netos e bisnetos, guardiões de sua história.
► NOVIDADE: faça parte do canal do Interiorano no WhatsApp (clicando aqui). Em 1964, Isaac deu o primeiro passo para se tornar fazendeiro, adquirindo sua primeira propriedade rural após muitos anos de luta e sacrifício, na região do Barreiro, a fazenda Paraíso. Ele chegou a Ubatã como um homem simples, com sonhos nos olhos e as mãos calejadas pela vontade de vencer. "Quanta saudade", suspira Josafá Matos, seu primogênito, que relembra com emoção a luta do pai pela sobrevivência. "Nossa primeira casa ele comprou na rua do Pontalzinho, onde nasci em 1959. Era uma batalha diária, mas ele nunca se deixava vencer pelas dificuldades."
Isaac iniciou sua vida econômica vendendo carne de porco e boi pelas ruas de Ubatã. Com um carro de mão e uma força inesgotável, ele cruzava a cidade e o campo, comprando porcos em fazendas distantes, às vezes dormindo em currais e sob árvores, levando os animais a pé até Ubatã. "Lembro dele usando tamancos de madeira, os pés feridos de tanto caminhar", recorda Josafá. "Quando chegava à cidade, com seu avental de quatro bolsos e um pano para as mãos, visitava cada cliente com um sorriso e a disposição de quem não desistia."
Ao lado de sua inseparável Dona Lourdes, Isaac lutou com o vigor de quem acredita na força da família e do trabalho honesto. Além de cuidar da casa e dos filhos, Dona Lourdes ajudava no sustento da família, fritando toucinho de porco para transformá-lo em banha, vendida nas feiras da cidade. Nas margens do riacho Água Branquinha, eles cozinhavam a banha em fogueiras de lenha, noite e dia. Aos sábados, Isaac montava sua barraca de madeira na feira, onde vendia carnes e a banha, conquistando a confiança e o respeito dos moradores.
Da venda de carne e banha de toucinho de porta em porta e na barraca da feira, passa para um açougue, que denominou "Acougue do Povo", ali em frente ao atual Fórum. Em 1977, Isaac comprou uma fazenda destinada à pecuária, iniciando uma jornada que culminaria em 2019, quando foi agraciado com o título de Agricultor do Ano pela Ceplac, reconhecimento que lhe foi entregue por Wesley Faustino, chefe de gabinete da Secretaria de Agricultura da Bahia. "Foi uma honra entregá-lo este prêmio. Isaac sempre será um exemplo para nossa comunidade", relembra Wesley.
Isaac Menezes era um homem de princípios. "Direito tem, meu filho, quem direito anda", dizia ele, reverenciando a justiça e o respeito ao próximo. Com sua partida, em 23 de abril de 2022 — data que curiosamente marca o dia de São Jorge, santo ao qual ele era devoto e cujo anel nunca tirava do dedo —, um vazio se instalou, mas seu legado permanece vivo. Suas palavras, sua ética, seu amor pela vida e pela família são heranças que não se apagam.Ele se foi, mas deixou, como gostava de dizer, o nome — um nome que será lembrado em Ubatã, pela família, amigos e todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo: ISAAC MENEZES DE OLIVEIRA.
Por Wesley Faustino: pesquisador, historiador, escritor, host do PodCastdoChefe, especialista em Gestão Pública e Gestão Ambiental e ex-vice-prefeito de Ubatã.