18/10/2024 às 09h07min - Atualizada em 18/10/2024 às 09h07min

A história da iluminação pública em Dois Irmãos e Ubatã: do lampião a querosene à energia elétrica

Ubatã celebra 60 anos de iluminação elétrica, lembrando as lutas e avanços que transformaram a cidade, com destaque para o papel de líderes e moradores locais.

Por Wesley Faustino - Interiorano
No arraial de Dois Irmãos(2.754 moradores/IBGE 1950) a iluminação a Lampião de querosene remota aos anos 40,  lá por volta dos anos  46/48, quando o líder político do Arraial de Dois Irmãos(hoje Ubatã), Sandoval Fernandes Alcântara, nomeado intendente em Ipiaú (chefe do Poder Executivo Municipal) pelo Presidente da República Getúlio Vargas - durante o  Estado Novo.

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Neste mandato como chefe do Poder Executivo de Ipiaú pavimentou e iluminou a rua da Tropa, hoje rua Ramiro Herbert de Castro, mais conhecida como rua do Pula-Pula, devido as irregularidades das pedras do calçamento, também como rua da Câmara de Vereadores. Era o Centro Comercial do Arraial de Dois Irmãos.

Zé Vicente, funcionário da padaria  pertencente aos irmãos Aníbal e   Arnaldo Azevedo, exercia duas atividades na extensão da rua Francisco Xavier, das imediações da casa do senhor Antonio Rebouças - na época chamada rua Dois Irmãos de Cima -  até o início da rua conhecida como Beira Rio. Durante as manhãs, Zé Vicente,  vendia pão de porta em porta -  equipado com um balaio cheio de pães, equilibrado com a ajuda de uma rodilha de pano sobre sua cabeça.
 
Segundo o advogado Paulo Cabral Tavares, também ex-vereador, ex-secretário municipal, ex-vice diretor do Colégio Estadual(CEU) e ex-vice-prefeito de Ubatã; Zé Vicente anunciava sua chegada aos clientes gritando em alto e bom som: "Olha o pão! Pão quentinho!". Sua energia e dedicação ao trabalho o tornaram uma figura marcante nas manhãs de Ubatã. Pelo final da tarde, era o responsável por acender os lampiões a querosene que iluminavam as ruas da cidade.

Isso durou até os anos 60 quando o o 1° prefeito de Ubatã,  Sandoval Fernandes Alcântara (o municipio já havia sido emancipado e com o nome de Ubatã) adquiriu um motor a diesel da marca MHM, alemão, de 5 cilindros e instalou em um imóvel da atual rua Lauro de Freitas (hoje, imóvel residencial do ex-vereador   Pulú Ferreira e o escritório de contabilidade do ex-vereador Amário Nascimento, era um imóvel só em todo terreno).

Inaugurado na véspera da festa da Nossa Senhora da Conceição,  em 7 de dezembro de 1952, o "motor", como era chamado, funcionava à noite, geralmente das 18h00 às 00h00, "alguns dias desligava o motor às 22h00", contou Paulo Cabral Tavares.

O operador responsável pela usina onde o motor ficava era João Pereira Magalhães, conhecido por  João Cajazeira,  pai do taxista José Carlos de Oliveira Magalhães, Zé Cabeludo, que na juventude, por muitas vezes ajudava o pai no trabalho de cuidar da usina e do motor. "Meu pai era mecânico de automóveis e eu sempre estava por lá. Nisso aprendi a mexer um pouco no motor", contou e ainda informou que tinha um senhor por nome Fubica que era o zelador do local e na ausência do seu pai, esse homem sempre ligava e desligava o motor nos horários combinados.

O motor gerador de energia para Ubatã teve seu funcionamento interrompido em 29 de julho de 1964, quando inaugurou o sistema de iluminação hidro-elétrica pelo sistema da antiga CERC.

Esse sistema de energia começou a chegar a Ubatã no ano de 1963,  no governo de Hamilton Fernandes Motta, 3° prefeito eleito do municipio. A Central Elétrica Rio das Contas(CERC) - antiga Usina do Funil - hoje Companhia  Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), acabava de ser construída e gerando energia para região. Num determinado dia do ano de 1963, a mando da direção da CERC, uns quatro caminhões saiam do depósito (nas imediações onde hoje funciona o Colégio Estadual) carregado de postes de madeira destinados a iluminar a cidade de Ipiaú.

Vendo a falta de atenção  da CERC com Ubatã  - a luz da cidade era gerada a motor - a população interceptou os caminhões e chamou o prefeito Hamilton Mota, líder do movimento. A população presente cercou os caminhões, furou os pneus e, assim, os caminhões não puderam seguir caminho. Fato acontecido nas  imediações da praça  Ruy Barbosa, em frente a atual loja Itapuã Calçados, e o outro caminhão no posto de gasolina Siava, local onde hoje é uma construção ao lado da loja de produtos agropecuários Dois Primos.

Alguns dias depois o governador Lomanto Júnior, amigo pessoal do prefeito Hamilton Motta, chegou na cidade de Ubatã com uma comissão da secretaria de Minas e Energia. O governador passou três dias em Ubatã, hospedado na casa do prefeito, e assinou a Ordem de Serviço para dar início ao sistema de iluminação elétrica em Ubatã.

Os caminhões foram liberados e a cidade de Ubatã começou a progredir com a chegada da iluminação elétrica. Em julho de 2024, Ubatã completou 60 anos que desligou o motor que gerava energia, fruto da luta e coragem do povo e do prefeito Hamilton Fernandes Motta.

Por Wesley Faustino: pesquisador, historiador, escritor, especialista em Gestão Pública e Gestão Ambiental e ex-vice-prefeito de Ubatã.

Foro: arquivo pessoal de Jonga Alcântara e Zé Cabeludo

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