Indígenas expõem peças de artesanato em Brasília e pedem visibilidade

Estão à venda na feira, que vai até 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, peças feitas por artesãos dos povos Gavião, Pataxó, Kariri Xocó, Guajajara e Bororo.

Agencia Brasil
01/08/2024 20h46 - Atualizado em 02/08/2024 às 00h01



No pescoço da artesã indígena Airy Gavião, de 68 anos, o colar com o muiraquitã (pequena pedra em forma de rã) significa muito mais do que um adereço que ela produz. “É o amuleto das mulheres guerreiras. Isso tem um significado muito forte para mim”. Tão forte que faz lembrar quando, aos 18 anos, decidiu deixar, com saudade, a comunidade de Aturiaí, no Pará, para tentar a vida em Brasília. Chegou com o muiraquitã e contava sua história a quem não conhecia, dizendo que o artesanato que aprendeu em casa era o símbolo da própria vida. 




Brasília (DF), 01.08.2024 - Airy Gavião na Feira indígena. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Brasília (DF), 01.08.2024 - Airy Gavião na Feira indígena. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil





Airy Gavião "junta sementinhas" desde a infância - Bruno Peres/Agência Brasil



Até sexta-feira da semana que vem, 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, artesãos como Airy expõem seus trabalhos em uma feira organizada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), no prédio onde está sediado o órgão, no centro da capital. “Somos artesãos desde a infância, quando a gente começa a juntar as sementinhas. Mas o meu forte mesmo era ajudar meu pai a fazer as peças de madeira.”



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Airy Gavião trabalha com todo tipo de artesanato, inclusive pinturas figurativas de indígenas e natureza. Ela ensinou a arte aos três filhos, que nasceram em Brasília. Os trabalhos que ela cria também são uma forma de voltar a se sentir na comunidade no Pará. “Tenho saudades de quando fazia farinha escaldada. De estar lá junto. De brincar. Todo mundo junto e cantando. Sinto falta do sentido de coletividade”.



Conhecimentos ancestrais



Na mostra, estão à venda peças feitas por indígenas dos povos Gavião, Pataxó, Kariri Xocó, Guajajara e Bororo.



Segundo diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lucia Alberta, a feira pode colaborar com a geração de renda e o fortalecimento das atividades produtivas que  enriqueçam a cultura indígena. “[É] sempre bom ressaltar que tudo que se vê em uma feira indígena é fruto dos conhecimentos ancestrais representados nos pequenos objetos que se pode ver nessa exposição”, afirmou Lucia Alberta. 



A artesã Murian Pataxó, de 49 anos, que vive em uma comunidade indígena na região administrativa do Paranoá, diz que esse saber ancestral representa modo de vida e de renda para eles. Murian lembra que tudo o que aprendeu foi com os pais e avós em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, e fazem recordam de quando foram ensinadas a reunir as sementinhas de morototó e de açaí, por horas a fio no cordão.



“Tudo feito a mão. Essas pulseiras e colares fazem parte do que nós somos”, afirma Murian. A artesã ressalta que o artesanato indígena precisa ter visibilidade cultural e comercial.




Brasília (DF), 01.08.2024 - Murian Pataxó na Feira indígena. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Brasília (DF), 01.08.2024 - Murian Pataxó na Feira indígena. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil





Murian Pataxó pede visibilidade para arte indígena - Bruno Peres/Agência Brasil




Gerações



As gerações mais novas garantem que não deixarão essa arte secar com o passar do tempo. A artesã Bruna Togojebado, de 30 anos, diz que tem felicidade de explicar o que aprendeu para a filha, de 9 anos. “Estou grávida e quero o melhor para quem vai vir depois da gente. A gente passa de pais para filhos essa sabedoria”.



Uma novidade é  que os mais novos estão ensinando os mais velhos a vender os produtos pela internet.



Aliás, o local de exposição e venda dos produtos foi motivo de descontentamento para os indígenas no primeiro dia da da feira. Os artesãos reclamaram para a Funai que gostariam de um espaço com mais visibilidade no próprio Edifício Parque Cidade Corporate.



A artesã Jacy Pataxó, de 50 anos, afirma que as peças estão expostas em um corredor onde há pouca movimentação de visitantes e que é preciso fazer um ajuste. “A gente depende das vendas. Queremos um lugar mais visível”.



Consultada pela reportagem sobre esse tema, a Funai não se manifestou.



Serviço



Exposição de Arte Indígena



Data: Até 9 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.



Endereço: Setor Comercial Sul, Quadra 9, Asa Sul – Brasília/DF



Local: Edifício Parque Cidade Corporate - Torre B



*Colaborou Ana Carolina Alli, estagiária sob supervisão de Marcelo Brandão



Por Agencia Brasil



Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-08/indigenas-expoem-pecas-de-artesanato-em-brasilia-e-pedem-visibilidade

FONTE: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-08/indigenas-expoem-pecas-de-artesanato-em-brasilia-e-pedem-visibilidade
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